Por que é que o Dólar Australiano está a recuar apesar dos sinais hawkish do RBA?

A tendência de queda do Dólar Australiano não mostra sinais de abrandamento, caindo pelo sexto dia consecutivo face ao Dólar dos EUA. Esta fraqueza persistente apresenta um enigma intrigante: mesmo com expectativas crescentes de uma subida de juros pelo RBA possivelmente já em fevereiro, o AUD continua a perder terreno. Quando convertemos 90 libras em AUD, os operadores de câmbio notam a fraqueza mais ampla que afeta o dólar.

Múltiplos ventos contrários pressionam o AUD apesar do momentum de inflação

As Expectativas de Inflação ao Consumidor na Austrália subiram para 4,7% em dezembro, de 4,5% em novembro, o valor mais baixo em três meses. Este aumento sugere que os agregados familiares estão cada vez mais preocupados com as pressões de preços, o que normalmente reforça a tese de uma política monetária mais restritiva por parte do Banco da Reserva da Austrália. No entanto, esta narrativa hawkish ainda não se traduziu em força do AUD.

A razão torna-se mais clara ao analisar o quadro completo de política. O RBA manteve sua postura hawkish na sua última reunião de 2025, e os principais bancos australianos—Commonwealth Bank e National Australia Bank—agora preveem que o aperto poderá começar já em fevereiro. A precificação do mercado reflete essa visão: os swaps atribuem uma probabilidade de 28% a uma subida em fevereiro, quase 41% para março, com agosto quase totalmente precificado.

No entanto, os mercados cambiais estão cada vez mais focados na diferença de juros entre o RBA e o Federal Reserve. Essa divergência conta uma história diferente da que os touros do AUD esperavam.

O Dólar dos EUA fortalece-se à medida que cortes de juros se tornam menos prováveis

A força do índice do Dólar dos EUA (DXY), atualmente negociado em torno de 98,40, revela o verdadeiro motor por trás da fraqueza do AUD. O caminho provável do Federal Reserve está a mudar para menos cortes de juros do que o esperado anteriormente, o que torna o USD mais atraente relativamente às outras moedas.

O relatório de emprego de dezembro apresentou um quadro misto. O crescimento do emprego atingiu 64 mil, ligeiramente acima das previsões, mas os números de outubro foram substancialmente revistos para baixo. Mais revelador, a taxa de desemprego subiu para 4,6%, atingindo o nível mais alto desde 2021. As vendas a retalho permaneceram estagnadas mês a mês, sinalizando que a procura dos consumidores está a perder impulso.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, reconheceu esses sinais mistos em declarações recentes, observando que o relatório de emprego não alterou as orientações futuras do Fed. Mais importante, Bostic enfatizou que as pressões de preços permanecem persistentes. Ele alertou que “vários inquéritos apontam para custos de entrada mais elevados, com as empresas determinadas a preservar margens ao aumentar preços”, e advertiu contra declarar vitória prematura sobre a inflação.

Os responsáveis do Fed continuam divididos quanto à política de 2026. A projeção mediana prevê apenas um corte de juros no próximo ano, enquanto alguns formuladores de política não veem cortes de todo. Entretanto, os operadores antecipam duas reduções. A ferramenta CME FedWatch mostra uma probabilidade de 74,4% de manutenção na reunião de janeiro, contra 70% uma semana antes.

Fraqueza na Ásia aumenta o sentimento de risco

Os dados económicos da China também pesaram no sentimento. As vendas a retalho de novembro subiram apenas 1,3% em relação ao ano anterior, ficando aquém da previsão de 2,9%. A produção industrial ficou em 4,8%, abaixo dos 5,0% previstos. O investimento em ativos fixos decepcionou ainda mais, com -2,6% acumulado no ano, face à expectativa de -2,3%.

Entretanto, o setor manufatureiro da Austrália mostrou uma melhoria modesta. O PMI de manufatura da S&P Global subiu para 52,2 em dezembro, de 51,6, mas o PMI de serviços contraiu-se para 51,0 de 52,8. O índice composto caiu para 51,1 de 52,6.

Os dados de emprego foram outra preocupação. A taxa de desemprego na Austrália manteve-se em 4,3% em novembro, abaixo do consenso de 4,4%. No entanto, a variação do emprego caiu acentuadamente para -21,3 mil em novembro, de 41,1 mil em outubro, uma reversão que assustou os mercados.

Sinalizações técnicas indicam maior risco de baixa

Do ponto de vista técnico, o par AUD/USD quebrou abaixo de uma zona de suporte crucial perto de 0,6600, negociando abaixo da Média Móvel Exponencial de nove dias (EMA) em 0,6619. O par também caiu abaixo do seu canal ascendente no gráfico diário, indicando um enfraquecimento do momentum de alta.

Se a pressão de venda persistir, o AUD/USD poderá deslizar em direção ao nível psicológico de 0,6500. Além disso, encontra-se o mínimo de seis meses de 0,6414, estabelecido em 21 de agosto. Para uma recuperação, seria necessário um movimento de volta acima da EMA de nove dias para reativar o interesse de alta e possivelmente testar a máxima de três meses de 0,6685 e o pico de outubro de 2024 de 0,6707. Uma quebra decisiva acima do canal ascendente apontaria para uma resistência em torno de 0,6760.

Visão geral do desempenho cambial

O Dólar Australiano emergiu como a moeda de pior desempenho entre as principais moedas nas negociações recentes, especialmente perdendo terreno face ao Yen japonês. O mapa de calor do mercado cambial mostra o AUD a negociar em forte baixa contra a maioria dos pares, refletindo a convergência das expectativas hawkish do Fed e sinais de deterioração do crescimento global.