
A natureza cíclica dos mercados de criptomoedas é uma das características mais distintivas do universo dos ativos digitais. Um ciclo cripto corresponde a uma sucessão de padrões de preços recorrentes e fases de sentimento de mercado vividas nos mercados de criptomoedas. Estes ciclos incluem geralmente fases de acumulação, subida, distribuição e descida, formando as alternâncias entre mercados bull e bear nas cripto. Em comparação com os mercados financeiros tradicionais, os ciclos de cripto tendem a ser mais extremos e comprimidos, podendo concluir em meses o que nos mercados convencionais demoraria anos. Compreender os ciclos de cripto é fundamental tanto para investidores como para equipas de projeto, já que eles influenciam os movimentos de preços, determinam o sentimento de mercado, os contextos de financiamento de projetos e o ritmo de desenvolvimento de todo o setor.
Os ciclos de cripto apresentam várias características essenciais que os distinguem dos mercados financeiros tradicionais:
Volatilidade extrema: As fases bull dos ciclos de cripto podem proporcionar rendibilidades de milhares ou até dezenas de milhares por cento, enquanto as fases bear podem resultar em perdas de 80-95% do valor, superando largamente as classes de ativos tradicionais.
Prazos comprimidos: Os ciclos de cripto são geralmente mais curtos do que os ciclos dos mercados tradicionais, podendo um ciclo completo ocorrer em 1-4 anos, face a 7-10 anos nos mercados tradicionais.
Narrativa como motor: Cada ciclo de cripto gira habitualmente em torno de narrativas tecnológicas específicas, como o boom das ICO em 2017, a fase de prosperidade do DeFi e dos NFT em 2021, e o entusiasmo subsequente em torno do Web3 e do metaverso.
Efeito do halving do Bitcoin: Os eventos de halving do Bitcoin, que ocorrem aproximadamente de quatro em quatro anos, têm historicamente uma forte correlação com pontos de transição dos ciclos de cripto, desencadeando normalmente picos de mercado bull 12-18 meses após o halving.
Dependência da liquidez: Os ciclos de cripto estão intimamente ligados ao contexto macro de liquidez global, sendo que políticas expansionistas dos bancos centrais frequentemente alimentam mercados bull e políticas restritivas podem desencadear mercados bear.
As fases de mercado dos ciclos de cripto podem ser segmentadas em:
Fase de acumulação: O sentimento de mercado está deprimido, os preços consolidam próximos dos mínimos e os primeiros investidores e crentes começam a construir posições.
Início de subida: Investidores institucionais entram gradualmente, os preços sobem lentamente e a confiança do mercado começa a ser restabelecida.
Fase de aceleração: Investidores particulares entram em massa, a atenção mediática aumenta e os preços sobem de forma parabólica.
Fase de euforia: O sentimento FOMO (“fear of missing out” — medo de ficar de fora) domina, surge exuberância irracional e o mercado assume características de bolha.
Fase de distribuição: Os primeiros investidores começam a realizar lucros, os preços atingem o pico e iniciam uma correção.
Fase de descida: A bolha rebenta, os preços desvalorizam-se drasticamente e o pânico instala-se no mercado.
Fase de desespero: O interesse do mercado atinge o fundo, os preços estabilizam nos mínimos, criando as condições para uma nova fase de acumulação.
Os ciclos de cripto têm efeitos profundos em todo o ecossistema blockchain:
Fluxos de capital: Durante mercados bull, o capital de risco aflui e as avaliações dos projetos inflacionam; em mercados bear, o financiamento torna-se escasso e as avaliações regressam à racionalidade.
Ondas de inovação: Diferentes ciclos geram diferentes ondas de inovação, como o modelo de ICO em 2017-2018 e os modelos DeFi, NFT e GameFi em 2020-2021.
Consolidação do sector: Os mercados bear eliminam projetos mais frágeis, permanecendo apenas aqueles com verdadeiro valor e bases sólidas.
Respostas regulatórias: Mercados bull extremos costumam desencadear atenção e intervenção regulatória, podendo influenciar o ciclo seguinte.
Adoção mainstream: Cada ciclo tende a trazer uma nova vaga de utilizadores e participantes institucionais, impulsionando o setor.
A compreensão dos ciclos de cripto apresenta vários desafios fundamentais:
Dificuldade de previsão: Apesar de certos padrões, prever com exatidão pontos de transição dos ciclos é praticamente impossível, já que os mercados frequentemente superam as expectativas.
Desafios psicológicos: As emoções extremas do mercado dificultam decisões racionais, levando investidores ao FOMO no topo ou a vendas por medo nos mínimos.
Mudança de narrativas: A narrativa dominante de cada ciclo é distinta e uma excessiva concentração nos modelos de sucesso do ciclo anterior pode resultar em oportunidades perdidas.
Incerteza regulatória: Alterações súbitas nos enquadramentos regulatórios podem interromper ou prolongar ciclos, aumentando a dificuldade de previsão.
Falhas de modelos: A dependência excessiva de padrões históricos dos ciclos pode conduzir a erros de decisão, dada a evolução contínua dos mercados.
Riscos de alavancagem: Os pontos de transição dos ciclos são frequentemente acompanhados por cascatas de liquidação de alavancagem, potencialmente exacerbando a volatilidade dos preços e o risco sistémico.
Compreender os ciclos de cripto exige a avaliação de múltiplos fatores, desde aspetos técnicos (tecnologias emergentes, halving do Bitcoin), fatores macroeconómicos (liquidez global, desenvolvimentos regulatórios) até à psicologia de mercado (índice de medo e ganância, sentimento nas redes sociais).
Apesar dos desafios, os ciclos de cripto oferecem oportunidades únicas a quem está atento, permitindo-lhes investir contra a tendência ou acompanhar tendências nos momentos certos.
Os ciclos de cripto são parte integrante da indústria blockchain e das criptomoedas, e a compreensão e adaptação a estes ciclos é essencial para todos os participantes do mercado. Os ciclos de cripto representam mais do que simples flutuações de preços; refletem o processo evolutivo de todo o setor, que evolui a partir de períodos de instabilidade. Cada ciclo elimina projetos, mas simultaneamente promove novas inovações e casos de uso, impulsionando o setor. À medida que os participantes amadurecem e aumenta a presença institucional, é provável que os futuros ciclos de cripto se tornem mais moderados, mas a natureza cíclica permanecerá uma característica fundamental desta classe de ativos emergente. A longo prazo, compreender e respeitar os padrões cíclicos, em vez de tentar contrariá-los, será determinante para o sucesso dos participantes no universo cripto.
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