Equação complexa: Por que o par de moedas euro-dólar permaneceu dependente de um equilíbrio monetário frágil?

No coração do conflito entre as políticas do Banco Central Europeu e do Federal Reserve, o preço do dólar face ao euro encontra-se preso numa faixa estreita, refletindo mais do que simples movimentos de preço, mas simbolizando a crise estrutural que corrói a economia europeia de um lado, e os receios de fragilidade financeira americana do outro. Desde o início do quarto trimestre deste ano, o movimento do preço limitou-se entre dois níveis de suporte próximos de 1.1550 e resistência em torno de 1.17, e cada pequeno desvio é governado por uma decisão monetária de um dos lados ou por um dado económico.

A corrida para o afrouxamento: quem se move primeiro?

A clara fissura entre as posições dos dois bancos centrais explica grande parte da fraqueza atual do euro. Enquanto os mercados se preparam para precificar uma possível redução da taxa de juro americana em dezembro, o seu homólogo europeu mostra-se mais cauteloso, mesmo com sinais evidentes de desaceleração na zona euro.

Em outubro passado, o Banco Central Europeu manteve as taxas inalteradas pela terceira vez consecutiva, reafirmando que o nível atual é “adequado” para combater a inflação, que ainda se mantém em 2.6%, acima do objetivo em 0.6 pontos. Contudo, deixou a porta aberta para uma possível redução, caso a fraqueza industrial persista, especialmente na Alemanha e França.

Do lado americano, os indicadores contam uma história diferente. O Produto Interno Bruto cresceu 2.1% no primeiro semestre deste ano, mantendo o ímpeto do dólar. O desemprego caiu para cerca de 4%, enquanto a inflação (de acordo com o índice de preços ao consumo pessoal) permanece em 2.9% em agosto.

Esta diferença entre os dois modelos traduz-se diretamente em diferenças de rendimento entre os títulos: os americanos a 4% contra os europeus a 3.25%, uma disparidade que mantém o euro sob pressão contínua, a menos que a economia europeia sofra uma mudança radical.

A fraqueza europeia: quem é responsável?

A imagem que enfrenta a zona euro é mais sombria do que os números sugerem. A Alemanha, motor da economia europeia, registou uma queda de 0.3% na produção industrial em setembro. Os indicadores dos gestores de compras nos setores industrial e de serviços encolheram abaixo de 50 pontos por quatro meses consecutivos, um sinal claro de contração económica.

A França não está melhor: o desemprego permanece perto de 7.5%, e as vendas a retalho estão em declínio. O poder de compra foi corroído pelo aumento dos preços e pela persistência das taxas elevadas.

Acima de tudo, os preços do gás natural começaram a subir novamente neste outono, com um aumento de cerca de 12% em outubro. Isto não é um dado marginal: significa mais pressão sobre as indústrias pesadas e químicas, podendo acrescentar entre 0.3 a 0.4 pontos percentuais à inflação até ao final do ano.

Além dos números: fatores geopolíticos

As moedas não vivem num vácuo. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, apesar de o seu destaque mediático ter diminuído, continua a ser um peso constante nos orçamentos europeus. Os governos aumentaram os gastos militares em média 7%, transferindo recursos de investimento produtivo para o setor militar.

Por outro lado, a dívida americana ultrapassou os 34 trilhões de dólares, mas o dólar mantém-se como refúgio seguro. Cada tensão geopolítica faz os investidores recuarem para o dólar, e a moeda europeia paga o preço. Um exemplo claro: em outubro, quando a tensão no Mar Negro aumentou, o índice do dólar subiu 1.2% em apenas uma semana, enquanto o euro caiu para o seu nível mais baixo em três semanas, em 1.1570.

A imagem técnica: expectativa e cautela

Do ponto de vista da análise técnica, o preço move-se entre 1.1550 e 1.1700, numa faixa de consolidação, sem impulso real. O índice de força relativa RSI está em torno de 40, indicando ausência de uma tendência forte. O MACD mostra um cruzamento fraco na tendência de baixa.

Os suportes principais estão em 1.1367 e 1.1186, e as resistências em 1.1711 e 1.1913. Curiosamente, as posições de especuladores no euro diminuíram 12% em outubro, indicando um aumento do pessimismo entre os investidores. Contudo, os dados de confiança dos investidores da “Sentix” em novembro mostraram uma ligeira melhoria após quatro meses de queda.

Três cenários à espera da reunião de dezembro

O Banco Central Europeu realizará a sua última reunião em 12 de dezembro. Os contratos futuros precificam uma probabilidade de 35% de redução da taxa de juro, contra 65% de manutenção.

Cenário 1: redução precoce na Europa
Se o banco reduzir a taxa em 25 pontos base antes do Fed, o euro enfrentará uma pressão imediata. Os rendimentos americanos tornar-se-ão mais atraentes, e o par euro/dólar poderá cair para cerca de 1.14 antes de uma possível recuperação no início de 2026.

Cenário 2: manutenção com sinais de afrouxamento
Manter a taxa em 4% com uma indicação de redução no primeiro trimestre de 2026 pode dar algum alívio ao euro. O preço pode subir gradualmente para cerca de 1.17, especialmente se houver fraqueza americana ou sinais do Fed de desaceleração.

Cenário 3: insistência na postura restritiva
Se o BCE insistir em não alterar as taxas até meados de 2026, apoiará momentaneamente o euro, mas aprofundará a crise nos países do sul e aumentará a fraqueza geral da região.

Quando análise encontra a realidade

A contradição fundamental aqui é simples: os EUA enfrentam uma desaceleração, mas mantêm a força da sua moeda. A Europa sofre com fraqueza, mas mantém uma política cautelosa. Este equilíbrio contraditório pode persistir até ao final do ano, desde que não haja uma mudança energética real na Europa ou um consenso financeiro em Washington.

O intervalo 1.15-1.18 continuará a ser a base sólida até ao final do ano, e as notícias de última hora terão maior impacto do que os dados tradicionais. A questão mais importante não é para onde o preço se dirige, mas qual das duas economias perderá a confiança do mercado primeiro: se os EUA começarem a mostrar sinais claros de recessão, o dólar recuará. Se a fraqueza industrial europeia persistir, o euro será o maior perdedor.

No final, este par de moedas não é apenas um indicador técnico, mas um termómetro do humor financeiro global: otimismo dos mercados eleva o euro, medo devolve o dólar à liderança. Entre estes dois polos, continua o jogo do equilíbrio.

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