Em outros tempos, os airdrops eram o método preferido para eventos de geração de tokens (TGE). Os projetos distribuíam moedas gratuitamente na esperança de criar uma comunidade fiel de hodlers e shillers. Por um período, essa estratégia teve sucesso. A promessa de “dinheiro grátis” gerou ciclos virais de hype — comunidades no Discord agitadas, threads no Twitter em alta, e usuários depositando TVL em smart contracts ainda não testados em busca de rendimentos extras.
No entanto, não existe almoço grátis. O farming de airdrops se tornou eficiente, farmers sybil ganharam destaque e os airdrops passaram a servir como liquidez de saída dos farmers para os compradores de primeira hora no TGE. Os projetos perceberam que, em vez de comunidades, estavam apenas alimentando especuladores oportunistas.

Ao invés de simplesmente distribuir tokens ao público, as equipes passaram a adotar um novo método. Perceberam que poderiam captar ainda mais recursos de investidores de varejo e fundos, a avaliações “generosas” e, por vezes, suspeitas. A nova proposta? “Estamos te dando a chance de comprar cedo — praticamente de graça!” É o mesmo estímulo do airdrop, mas agora com uma barreira de entrada e sob o discurso de “fair launch”.
Na teoria, faz sentido. As pessoas tendem a valorizar mais aquilo pelo que pagam, fenômeno conhecido como efeito endowment. Assim, talvez não despejem o token logo no primeiro dia. Além disso, esse “ICO generoso” permite às equipes reforçar o caixa, em vez de simplesmente distribuir tokens gratuitamente. Em troca, o investidor de varejo pelo menos acessa uma negociação líquida, com boa chance de rentabilidade.
$PUMP captou cerca de US$600 milhões a uma avaliação de US$4 bilhões. Apesar de oscilar para baixo, ainda negocia próximo dos US$4,4 bilhões e os primeiros investidores tiveram a oportunidade de vender com até 75% de lucro no TGE.

$XPL fez uma campanha de LP que permitiu a entrada de farmers a um FDV de US$500 milhões, captando US$50 milhões. O ROI foi extraordinário quando o CT impulsionou o token a um FDV de US$16 bilhões. Os investidores iniciais ainda acumulam cerca de 6x de lucro, mesmo após a desvalorização do token.

Atualmente, há dois ICOs muito aguardados antes do TGE: MegaETH e Monad. O MegaETH captou cerca de US$50 milhões a um FDV entre US$900 milhões e US$999 milhões; o Monad busca levantar quase US$200 milhões a um FDV de US$2,5 bilhões. Ambos antes do lançamento do produto.
Embora nenhuma operação seja garantida, o mercado aposta que ambas serão boas oportunidades. Essa percepção se reflete no fato de o MegaETH ter sido superado em demanda em 27,8 vezes.

Mas de onde vem esse capital? De quem compra esses ativos no TGE, o mesmo que ocorre com os airdrops. Enquanto houver demanda por esses ativos no TGE, a operação tende a ser rentável para a maioria.
É esperado que essa tendência continue, mas cabe um alerta. É provável que mais equipes façam TGE dessa forma — e nem todas trarão boas oportunidades. O mercado tende a se tornar mais eficiente ao longo do tempo e essas arbitragens não serão eternas. ICOs públicos não são uma “máquina de dinheiro grátis”.
Desde a aquisição da Echo/Sonar pela Coinbase, é razoável supor que o futuro token $BASE será lançado via ICO, não via airdrop.
Além disso, essa nova “meta” pode funcionar como um obstáculo para o mercado de altcoins como um todo. O comprador marginal desses ICOs costuma ser um holder de altcoins e, quanto mais capital se direciona aos ICOs, menor será a liquidez para sustentar projetos “vaporware” de alto FDV. Muitos deles já foram descartados em 10 de outubro, e a competição “PvP” só tende a se intensificar.

O cenário aponta para uma dispersão ainda maior entre tokens sólidos e fracos. Tokens com valor monetário e fluxo de caixa têm maior potencial; já tokens baseados em narrativa ou hype tendem a apresentar maior risco. Tenha cautela ao investir.





